segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Xilogravura, literatura de Cordel e Repente -Alta Indefiniçao! Baixa Resoluçao na madeira, arte pixelada rústica

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“Em toscos pedaços de madeira, o artista popular nordestino construiu a mais rica e instigante expressão plástica da cultura brasileira. De pouca leitura, o artista usou a técnica milenar da xilogravura para retratar o seu mágico universo, onde anjos se misturam com demônios, beatos com cangaceiros, princesas com boiadeiros, todos envolvidos nas crenças, esperanças, lutas e desenganos da região mais pobre do país.
A aridez inclemente de todas as estações torna a paisagem sertaneja campo fértil para o fantástico. “Dentro da paisagem real, marcada por contrastes sociais, em que a maior sede é de justiça, os seres sofridos, desprezados e perseguidos encontram nos traços do gravador popular o campo para se transfigurarem em heróis e hóspedes de um mundo melhor.”


.:. Literatura de Cordel

2934379_7e50665275Dentre as manisfestações literárias folclóricas mais conhecidas está a literatura de cordel. Hoje em dia em bem conhecida em todo o país, mas é mais comum no Nordeste brasileiro. Consiste na exploração de assuntos e temas palpitantes que são versejados por poetas e sertanejos. As publicações ocorrem basicamente em folhetos, capeados de xilogravuras referentes aos temas tratados. O hábito da leitura em feiras e grandes concentrações de público se tornou muito popular, devido a falta de alfabetização de boa parte dos sertanejos que apreciam essa modalidade de nossa língua.
A literatura de cordel é assim chamada pela forma como são vendidos os folhetos, dependurados em barbantes (cordão), nas feiras, mercados, praças e bancas de jornal, principalmente das cidades do interior e nos subúrbios das grandes cidades. Essa denominação foi dada pelos intelectuais e é como aparece em alguns dicionários. O povo se refere à literatura de cordel apenas como folheto.
cordel_reseA tradição dessas publicações populares, geralmente em versos, vem da Europa. No século XVIII, já era comum entre os portugueses a expressão literatura de cego, por causa da lei promulgada por Dom João V, em 1789, permitindo à Irmandade dos Homens Cegos de Lisboa negociar com esse tipo de publicação.
Esse tipo de literatura não existe apenas no Brasil, mas, também, na Sicilia (Itália), na Espanha, no México e em Portugal.
Na Espanha é chamada de pliego de cordel e pliegos sueltos (folhas soltas). Em todos esses locais há literatura popular em versos.

A XILOGRAFIA

A xilografia é definida como um artíficio com que os gráficos do cordel ilustram as capas dos folhetos. A técnica consiste em, num pedaço de madeira, esculpir um alto relevo, sobre o qual o papel da capa é prensado. É uma obra de arte primitivesca, por isso mesmo a constar entre os itens do artesanato e do folclore.
A xilogravura é um processo de gravação em relevo que utiliza a madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado.
Para fazer uma xilogravura é preciso uma prancha de madeira e uma ou mais ferramentas de corte, com as quais se cava a madeira de acordo com o desenho planejado.
É preciso ter em mente que as áreas cavadas não receberão tinta e que a imagem vista na madeira sairá espelhada na impressão; no caso de haver texto, grava-se as letras ao contrário.
Depois de gravada, a matriz recebe uma fina camada de tinta espalhada com a ajuda de um rolinho de borracha. Para fazer a impressão, basta posicionar uma folha de papel sobre a prancha entintada e fazer pressão manualmente, esfregando com uma colher ou mecanicamente, com a ajuda de uma prensa.
Como podemos constatar, é uma técnica bastante simples e barata; por isso se presta tão bem às ilustrações das capas dos folhetos de cordel. Para termos uma idéia desta simplicidade, basta saber que os gravadores nordestinos fabricam suas próprias ferramentas de corte com pregos e varetas de guarda-chuva, por exemplo, para conseguirem diferentes efeitos no desenho.

História

gravuA xilogravura já era conhecida dos egípcios, indianos e persas, que a usavam para a estampagem de tecidos. Mais tarde, foi utilizada como carimbo sobre folhas de papel para a impressão de orações budistas na China e no Japão.
Com a expansão do papel pela Europa, começa a aparecer com maior freqüência no Ocidente no final da Idade Média (segunda metade do século XIV), ao ser empregada nas cartas de baralho e imagens sacras. No século XV, pranchas de madeira eram gravadas com texto e imagem para a impressão de livros que, até então, eram escritos e ilustrados a mão. Com os tipos móveis de Gutemberg, as xilogravuras passaram a ser utilizadas somente para as ilustrações.
A descoberta das técnicas de gravura em metal relegou a xilogravura ao plano editorial no transcorrer da Idade Moderna, mas nunca desapareceu completamente como arte. Tanto que, no final do século XIX, muitos artistas de vanguarda se interessaram pela técnica e a resgataram como meio de expressão. Alguns deles optavam por produzir obras únicas, deixando de lado uma das principais características da xilogravura: a reprodução.
No Brasil, a xilogravura chega com a mudança da Família Real portuguesa para o Rio de Janeiro. A instalação de oficinas tipográficas era proibida até então. Os primeiros xilogravadores apareceram depois de 1808 e se alastraram principalmente pelas capitais, produzindo cartas de baralho, ilustrações para anúncios, livros e periódicos, rótulos, etc.
Estas matrizes, que foram produzidas ao longo do século XIX e abarrotavam as tipografias nordestinas, aparecem nos primeiros folhetos de cordel impressos, no final deste século (o mais antigo que se tem notícia é de autoria de Leandro Gomes de Barros - 1865-1918).
Os editores dos livretos decoravam as capas para torná-las mais atraentes, chamando a atenção do público para a estória narrada. Para isso, utilizavam o que estava à mão: poderiam ser os clichês de metal (são como carimbos) que começavam a substituir os de madeira no início do século XX ou simples vinhetas decorativas. A xilogravura como ilustração, feita sob encomenda para determinado título, nasce da necessidade de substituir os clichês de metal já gastos. Por isso, não é difícil encontrar xilogravuras de capas de cordel imitando desenhos e fotografias de clichês. Mas, a xilogravura popular nordestina ganhou fama pela qualidade e originalidade de seus artistas.
Hoje em dia, muitos gravadores nordestinos vendem suas gravuras soltas além de continuarem a produzir ilustrações para as capas dos cordéis. Gravadores como J. Borges, José Lourenço, Jerônimo e muitos outros, expõem seus trabalhos em importantes instituições no Brasil e no exterior.


A FEITURA

“Quem surgiu primeiro foi o repentista. Os repentistas iam antes nas casas. O cordelista veio depois de Leandro e outros, que escreviam no papel a mesma poesia. O repentista chega aqui e começa a cantar abrangendo tudo que tem nessa sala, o seu nome e de outro, as mulheres, os homens, o moreno, o pequeno, o gordo. Ele faz versos gozando ou elogiando todo esse povo.
O cordelista escreve com um objetivo, um enredo que vai dar um futuro para aquela história. É a mesma literatura, a mesma escritura, só que o repentista nasceu primeiro no Nordeste. A Paraíba é que é o lugar mais forte da poesia popular.
É muito difícil dar expressão a uma gravura. Eu desenho direto. Tem muitos gravadores que desenham no papel e passam para a madeira. Eu não. Pego a madeira, lixo, desenho, sai meio troncho, errado, lavo a faca, corto, imprimo e mostro. Se agradar, agradou. Se não agradar, foi brincadeira.”
J. Borges
(in J. Borges por J. Borges. Org. Clodo Ferreira. Editora UnB, 2006)

Dois fatores explicam as condições para que no início do século XX surgisse em Juazeiro do norte, Ceará, as condições ideais para as primeiras manifestações regulares da xilogravura. A vinda do entalhador italiano Agostini para esculpir as portas da igreja matriz trouxe a técnica que chamaram a atenção para uma nova função estética para a madeira.
Uma nova leva de artesãos se formou na arte de esculpir portas, guarda-roupas e santos para atender a demanda dos romeiros. Com a arte dos santeiros e tipografias improvisadas Agostini ensinou também o entalhe de matrizes de madeira para a impressão de títulos para o jornal do Padre Cícero e de rótulos de produtos fabricados pela indústria no vale do Cariri.
Com estilos opostos, Mestres Noza e Walderedo Gonçalves ganharam destaque como xilogravadores da região.  Noza, devoto, muito primitivista, produzia figuras sem detalhes. Walderedo, iniciado na arte da xilogravura dez anos depois de Noza e crédulo em relação ao Padre Cícero, foi considerado o mais clássico dos gravadores populares. Produzia ilustrações com traços finos e complexos sombreados.
Em Pernambuco, Ceará, Alagoas, Sergipe e Bahia surgiram pequenas gráficas caseiras, sem mercado de expressão. A democratização do processo produtivo de cordéis abriu espaço para a xilogravura e seus artistas.



Dois estilos distintos de composição foram desenvolvidos: o dos xilogravadores radicados em Pernambuco e os de Juazeiro do Norte – CE.  O primeiro, fiel às figuras isoladas do fundo da gravura, com grandes contrastes nas áreas de impressão, permite a experiência de impressões coloridas; o segundo, com sombras, fundos detalhados e complexidade de traços.


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.:. Desafio ou Repente
desaf
A origem do repente é desconhecida, acredita-se que sua origem é árabe e foi introduzinda no Brasil a partir dos portugueses como herança dos trovadores medievais. O repente é uma espécie de batalha entre dois repentistas, que utiliza-se de um mote para desafiar o outro. O canto é acompanhando de instrumento musical, geralmente uma viola de 7 a 10 cordas.
O Desafio é classificado como um gênero de poesia popular, entoada ao som das violas. Dois cantadores, violas em punho, versejam provocações mútuas, improvisadas com métricas rigorosas, de silabações variadas, a receberem denominações próprias, tais como: moirão, martelo, o martelo agalopada, o galope, a ligeria, o quadrão, a embolada, etc.
repenteNo Brasil, a tradição medieval ibérica dos trovadores deu origem aos cantadores – ou seja, poetas populares que vão de região em região, com a viola nas costas, para cantar os seus versos. Eles apareceram nas formas da trova gaúcha, do calango (Minas Gerais), do cururu (São Paulo), do samba de roda (Rio de Janeiro) e do repente nordestino. Ao contrário dos outros, este último se caracteriza pelo improviso – os cantadores fazem os versos “de repente”, em um desafio com outro cantador. Não importa a beleza da voz ou a afinação – o que vale é o ritmo e a agilidade mental que permita encurralar o oponente apenas com a força do discurso.
A métrica do repente varia, bem como a organização dos versos: temos a sextilha (estrofes de seis versos, em que o primeiro rima com o terceiro e o quinto, o segundo rima com o quarto e o sexto), a septilha (sete versos, em que o primeiro e o terceiro são livres, o segundo rima com o quarto e o sétimo e o quinto rima com o sexto) e variações mais complexas como o martelo, o martelo alagoano, o galope beira-mar e tantas outras. O instrumental desses improvisos cantados também varia: daí que o gênero pode ser subdividido em embolada (na qual o cantador toca pandeiro ou ganzá), o aboio (apenas com a voz) e a cantoria de viola.


















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