segunda-feira, 20 de julho de 2009

A improvisação como espetáculo...

No século XX, com a profusão de processos de criação cênica que privilegiaram o diálogo entre as funções artísticas de um espetáculo, a improvisação reconquistou seu espaço tornando-se ferramenta fundamental na construção da cena contemporânea. Os processos de criação coletiva e/ou colaborativos têm na improvisação o lugar de experimentação, um laboratório onde se testam os caminhos a seguir.

A improvisação, neste caso, seria a via de entrada e aprofundamento na linguagem teatral tanto em sua experimentação como jogador/ator, quanto em sua fruição e reflexão como público. Para Spolin a essência do fazer teatral se concentra na relação entre ator e platéia.

“Quando se compreende o papel da platéia o ator adquire liberdade e relaxamento completo. (...)
Quando a platéia é entendida como sendo uma parte orgânica da experiência teatral, o alunoator ganha um sentido de responsabilidade para com ela que não tem nenhuma tensão nervosa. A quarta parede desaparece, e o observador solitário torna-se parte do jogo parte da experiência e é bem recebido!” Spolin

O conceito de improvisação como espetáculo remete às formas teatrais nas quais os atores criam em presença do público uma dramaturgia do instante.

“Há muitos graus na improvisação: a invenção a partir de um canevas conhecido e muito
preciso (assim, na Commedia dell`arte), o jogo dramático a partir de um tema ou de uma senha,
a invenção gestual e verbal total sem modelo na expressão corporal, a desconstrução verbal e a
pesquisa de uma nova “linguagem física” (ARTAUD)”

A improvisação como espetáculo recupera o papel do ator como criador de uma dramaturgia efêmera compartilhada e influenciada pelo público. Assim, o ator sairia de sua condição de intérprete de palavras alheias e enfrentaria o desafio, em cumplicidade com o público, da criação instantânea. Este caminho será aprofundado pelas vanguardas históricas (principalmente pelo surrealismo) com a escrita automática, e outros procedimentos, que pretenderam que o fazer artístico não experimentasse uma diferença temporal entre criação e fruição.

Algumas possibilidades:

Commedia dell´arte
Teatro da Espontaneidade
Nova Comédia Improvisada
The Machine
Theatre Sports
Match de Improvisação
Catch de Impro
Teatro Fórum
Teatro do Oprimido

Sempre há um “algo” do qual partir em uma improvisação. Este “algo” reside em três focos principais e essenciais ao fazer teatral: o ator, o público e o espaço. Os estímulos nos quais começamos a fundamentar nossa improvisação, supostamente a partir do “nada”, se encontram em um destes focos e cabe aos improvisadores serem capazes de escutá-los e desenvolvê-los

Esta capacidade de escuta e de manejo dos estímulos depende da destreza técnica do improvisador, o que mais uma vez aproxima a improvisação do rigor e do preparo. O ator deve ser capaz de entrar em um estado de cumplicidade absoluta com o público e com o espaço, fazendo-os partícipes da criação teatral.

Pensando nestes termos, talvez o púbico contemporâneo, ou boa parte dele, esteja disposto a abrir mão do acabamento dramatúrgico de uma cena ou de sua perfeita execução, admitindo a precariedade de uma dramaturgia criada no instante em consonância com os atores. Essa atitude de co-criador da ficção teatral, podendo alterar o curso da ação realizada no palco, pode levá-lo, como afirma Boal em seu Teatro do Oprimido, a assumir um lugar de cidadão ativo na sociedade e não mero espectador dos acontecimentos que determinam sua vida social.

RECOMBINAÇÂO do texto: A relação ator-público na improvisação como espetáculo
de
Mariana Muniz(UFMG)

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